Dom Carlos José
Bispo de Apucarana (SP)“SEMPRE TEREIS POBRES ENTRE VÓS. ” (MC 14,7)
Por ocasião da Celebração do V Dia Mundial Dos Pobres, a Catedral Nossa Senhora de Lourdes, sede da Diocese de Apucarana, celebrará a Santa Missa com a participação das várias associações e entidades que servem, com amor e caridade, os menos favorecidos. Esta data, não por acaso, é celebrada no domingo que antecede a Solenidade de Cristo Rei do Universo, para que tenhamos consciência de que Jesus é o Rei de todos, independentemente da condição social ou de vida que cada um tenha. Celebrar o dia dos pobres não é apenas fazer lembrança de que eles existem, e sim, é uma forma de trazer à tona essa dura realidade que nos circunda diariamente, fazendo-nos rever nossos conceitos sobre a responsabilidade que temos para com o bem-estar do próximo. Quando Jesus diz que “pobres, sempre tereis entre vós” não significa que tenhamos que nos acostumar com essa situação e ignorá-los, e ignorando-os, deixá-los à margem. Cristo nos exorta a olharmos com amor e agir com caridade para com esses irmãos menos favorecidos ou nada favorecidos e, com compaixão, ajudar a amenizar suas dificuldades. Decretado pelo Papa Francisco, como fruto do Ano da Misericórdia, o Dia Mundial dos Pobres contempla a essência do Evangelho de Cristo: amar o próximo como a si mesmo. O dia em que assimilarmos verdadeiramente que o pobre e o indigente são tão filhos de Deus quanto nós o somos, aprenderemos a cumprir algumas das obras de misericórdia corporais e espirituais: dar de comer e beber a quem tem fome e sede e ensinar os ignorantes. Muitos são os pobres e necessitados: uns de comida e itens básicos para a sobrevivência e outros de amor e conhecimento de Deus, porque ignoram, não foram apresentados à Pessoa de Jesus Cristo e não se sentem parte da Igreja e da comunidade de fé. Em contrapartida, o Papa afirma que os pobres e indigentes são genuínos evangelizadores, pois, sentindo na própria carne os duros sofrimentos da vida, nos revelam a face do Cristo Sofredor “O Filho do Homem não tem onde reclinar sua cabeça” (Lc 9, 58). Toda obra de Cristo está unida aos pobres que são sinais visíveis de Sua presença entre nós. É no indigente e em suas precariedades que encontramos Cristo. Compreender o pobre sob a ótica de Cristo exige uma conversão verdadeira em relação à pratica da caridade, doação e à gratuidade de nossas ações. Amar ao próximo vai muito além de amar os que nos rodeiam ou com os quais temos afinidades. O próximo é todo aquele que encontramos pelo caminho, nas esquinas, nos becos, debaixo da ponte, nas portas das Igrejas ou nas periferias existenciais ou municipais. A conversão precisa acontecer principalmente no quesito ‘indiferença’, que acontece quando nos habituamos com a situação desumana do irmão e, muitas vezes, o culpamos pela forma como vive, como se fosse uma escolha pessoal viver assim e, acostumados, nada fazemos. Chamamos de coitados os pobres e indigentes, mas talvez, os coitados sejamos nós que não temos a coragem de fazer algo que dê mais dignidade a quem quase nada tem. A pobreza não é fruto do destino e sim, consequência do egoísmo humano. Muito se cobra das autoridades a responsabilidade pelo cuidado com os pobres, exigindo delas um trabalho social mais direcionado, eximindo-nos da nossa própria obrigação como cristãos. Mais que assistencialismo é necessário recuperar a dignidade do irmão que, além das carências materiais, carece de amor e de sentir-se parte da comunidade dos filhos e filhas amados por Deus. Quem é generoso não pede contas do comportamento alheio e tudo faz para melhorar a condição de pobreza e carência, ajudando a suprir a necessidade do irmão. “Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, chegado já à sua quinta celebração, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão. Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes se escondem. É importante compreender como se sentem e quais os desejos que têm no coração. ” (Papa Francisco, Mensagem sobre o V Dia Mundial dos Pobres). Essa deve ser a face da Igreja que pretendemos ser e que Cristo deseja: um Hospital de Campanha, onde os feridos, humilhados e necessitados sejam acolhidos, curados e amados como irmãos em Cristo Jesus. Que a Virgem Maria nos ajude e passe à frente do nosso orgulho e indiferença, alcançando-nos a graça da conversão, para cuidarmos dos nossos irmãos, como gostaríamos de ser cuidados em nossas necessidades.
Fonte: Site CNBB