Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Prezados leitores/as!
Em sintonia com o Tempo Pascal, apenas concluído, e no início da segunda parte do Tempo Comum, a Igreja celebra, neste domingo, dia 30, com solenidade e um sentido ainda mais fervoroso, o mistério por excelência de sua existência: a Unidade na Trindade e a Trindade na Unidade – as Três Pessoas divinas – Pai e Filho e Espírito Santo. Mistério de amor, de glória e de graça.
Mistério de amor em si mesmo, ao qual chegamos pela mesma revelação que Ele faz de si mesmo a nós. Se sabemos que Ele é amor pelo amor que nos tem, sabemos que Ele nos tem amor, porque é Amor em si mesmo. É um amor fecundo, eterno, potente e absoluto.
Mistério de glória que envolve o seu próprio Ser. A glória (em grego “doxa”) é o mundo de Deus, mundo ao qual Ele quer-nos conduzir, antes, foi para esse mundo que Ele nos criou, e o seu desejo, ao se revelar, é possibilitar já agora viver nesse mundo de glória.
Mistério de graça, na intimidade dos Três, cada Pessoa se dá às Outras Duas, numa eterna comunhão (a teologia chama de “circumincessio” ou “perichoresis” – as Pessoas estão umas nas outras, numa eterna relação). Esse termo muito importante da Teologia indica, não só que Deus é um Ser de relações, mas até mesmo revela o que nós somos: devido termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, somos seres de relações, sendo a primeira e fundamental, a relação com o Ser de Deus, isto é, com o Pai pelo Filho no Espírito Santo. Dessa relação vem e se ilumina e realiza as outras relações: com os nossos semelhantes e com o mundo criado. Está é a graça da qual fazemos parte ou recebemos. Uma vida na graça significa vida de comunhão com a Trindade, ou vida “em Cristo”, ou “vida no Espírito”, conforme nos ensina São Paulo. E que leva sempre à vida de comunhão com os irmãos e irmãs. A partir da 1ª Leitura, do Deuteronômio, podemos sim perguntar: “que Deus é tão amável como o nosso Deus, que para se manifestar e se comunicar para fora dele mesmo, dando o seu amor ou fazendo participar de seu amor um ser que não fosse Ele mesmo, já que vivia na plenitude desse amor, cria o homem e a mulher para receber esse amor. E Ele se manifesta e se comunica, dando-nos Ele mesmo, não alguma coisa, ou algum bem, mas Ele mesmo é o Dom e o Bem que se dá a nós. E, nem o pecado nem a infinita diferença qualitativa entre Ele e nós, nada o impede de o realizar. A história dessa ação é chamada de “Economia da Salvação” ou “Historia Salutis” (História da Salvação), pois se trata justamente disso: “Salvação”, plenitude de nosso ser e restauração de nossa vida e de nossa história.
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério por excelência da vida da Igreja. Unido a ele está a encarnação da Segunda Pessoa divina, Jesus Cristo, e a presença da Terceira Pessoa, o Espírito Santo, na vida do justo. Desses “mistérios” dependem todos os outros: o da Virgem Maria, da Igreja, dos Sacramentos, da vida da Graça, da salvação eterna ou vida eterna. A “conexão” ou nexo entre esses mistérios se dá no mistério da Santíssima Trindade (cf. CONCÍLIO VATICANO II. Decreto sobre o Ecumenismo, Unitatis redintegratio, n. 11). Que o mistério da Santíssima Trindade seja visto pela Igreja como mistério central o afirma o Catecismo da Igreja Católica: “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades da fé’. Toda a história da salvação não é senão a história do caminho e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo e se une aos homens que se afastam do pecado” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 234).