Por José Luís Lira
Diretor do Museu Diocesano Dom José de Sobral
Era uma sexta-feira, 25/09/1959, às 21h30min, no então Palácio Episcopal, hoje Museu Diocesano Dom José. Dom José Tupinambá da Frota, primeiro Bispo de Sobral e Conde Romano da Santa Sé, que agiu não só no aspecto religioso, mas, também, nos campos educacional, cultural, da saúde, das comunicações e assistenciais, falecia. Desaparecia o homem, consolidava-se um nome na história como o maior benfeitor de Sobral, de todos os tempos, sem exercer cargo político, sem acúmulo de nada em ordem pessoal, tão somente no exercício da sua vocação sacerdotal que se tornou episcopal.
No livro “Genealogia Sobralense: Os Ferreira da Ponte” (Sobral: IOM, 2005, vol. IV, tomo III, páginas 1498/1499), o historiador e genealogista sobralense Assis Arruda, ressalta, citando a imprensa da época, como se vê na obra, que o “acontecimento levado ao par pelas suas emissoras locais e pelas estações de radioamadores, espalhou-se imediatamente por todos os recantos do Brasil. Também no estrangeiro, enchendo de tristeza os corações daqueles que o conheciam e enlutando a alma da Igreja Católica. Logo após a morte de Dom José, o povo sobralense, em romaria, acorreu ao Palácio, para prestar seu último tributo de pesar, ao seu querido pastor e guia espiritual. Assistiram os últimos momentos de vida do ilustre antístite o Revmo. Pe. José Palhano de Saboya, seu secretário e Prefeito Municipal de Sobral, Dom José Bezerra Coutinho [Bispo Auxiliar, residente no Palácio], que lhe administrou a extrema-unção, Dr. Guarany Mont’Alverne, seu dedicado médico, J. Wilson, enfermeiro François, Pe. Luiz Rodrigues, Irmã Estefânia, Superiora do Ginásio Sant’Ana, e a Irmã Marfisa.
Após o seu passamento, o corpo de Dom José foi removido para o salão nobre do Palácio, e três horas depois, conforme deliberação do Conselho Diocesano, para a Capela do Menino Deus, entre choros e soluços da incalculável multidão, e lá ficou exposto à veneração pública. Durante toda a noite, centenas de pessoas desfilaram silenciosamente ante o esquife, tocando piedosamente o corpo do ilustre morto, que se achava revestido de paramentos e insígnias episcopais. Precisamente às 2 horas da madrugada do dia seguinte, o Revmo. Pe. José Palhano, seu filho espiritual, em pranto celebrou a primeira missa de corpo presente, e às 6 horas, Dom José Bezerra Coutinho celebrou a segunda, a qual foi assistida pelo clero, seminaristas, associações pias e o povo em geral. As 10 horas, realizou-se o solene cortejo fúnebre para a trasladação do corpo de Dom José, da capela do Menino Deus para a Catedral, tomando parte as Irmandades, Seminário, o clero diocesano, colégios, religiosos e uma incomputável multidão. Às 17 horas, com a presença de Dom Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo Metropolitano [de Fortaleza], Dr. Tancredo de Alcântara, representante do Governador do Estado, sacerdotes e quase todos os vigários da Diocese, Seminário, Religiosas, Colégios, Associações Pias, destacadas autoridades, e uma grande multidão que enchia a Igreja da Sé e se espalhava pela espaçosa praça, foi celebrada por Dom José Bezerra Coutinho, a missa solene de réquiem, e em seguida teve lugar a encomendação do Corpo, sendo as cinco absolvições do Ritual Romano, ministradas pelo Sr. Arcebispo Metropolitano, por Dom José Bezerra Coutinho, e pelos Monsenhores Fontenele, José Osmar e Domingos de Araújo. Depois o corpo de Dom José foi conduzido pelo Sacerdotes para a Capela do Santíssimo, onde foi sepultado ao som do toque de silêncio, e depois a banda de música municipal entoou uma marcha fúnebre provocando uma consternação geral.
O desenrolar da triste cerimônia foi transmitido pela Rádio Iracema de Sobral, na palavra do Revmo. Pe. Sadoc Araújo e do radialista José Maria Soares”.
Salve, Dom José!