Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Somos continuamente provocados a fazer escolhas, diante das enormes e variadas possibilidades que nos são oferecidas em todos os campos. E temos à nossa disposição um imenso leque para as eventuais definições, desde o dia a dia mais singelo até as grandes opções da vida, como pode ser o estado de vida e a realização vocacional, como a Igreja nos ajuda a tomar consciência durante o mês de agosto. Podemos inclusive reconhecer que muitos dos novos meios tecnológicos têm um potencial positivo, se bem utilizados, para a abertura de novos caminhos de serviço e dedicação a Deus e ao próximo.
Os primeiros discípulos de Jesus tiveram que se confrontar com escolhas muito exigentes. Sabemos que as multidões acorriam a ele e do meio delas afloravam os que respondiam de forma consciente à Palavra. Havia também adversários ferrenhos, como doutores da lei, fariseus, escribas, gente com muito conhecimento e pouca abertura à verdade. A ele acorriam também pessoas, conhecidas como
“pecadores públicos”, por trabalharem para os romanos. Vinham para perto de Jesus doentes de toda espécie, marginalizados, prostitutas, estrangeiros rejeitados pelo ambiente circundante, jovens e velhos, todos queriam saber o que aquele que pensavam ser apenas um homem importante lhes poderia oferecer!
O grupo que se vinha formando, apóstolos e discípulos, teve também suas crises, e o Evangelho mostra uma dessas situações (Jo 6, 60-69) nas quais houve dispersão de seguidores do Senhor e também a confirmação de muitos corajosos, representados pela forte palavra de Simão Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente que tu és o Santo de Deus” (Jo 6, 68-69). No correr da história, todos os homens e mulheres que se encontrarem com Jesus deverão necessariamente, mais cedo ou mais tarde, fazer a grande opção de vida, passando pelas crises de crescimento normais em todo processo de crescimento na fé.
O Senhor vai ao encontro de cada pessoa, com a ação de seu Espírito. Há uma base inicial com a qual desejamos estabelecer o encontro com ele. Sabemos que, no contato com tanta gente, ele acolheu pessoas frágeis e pecadoras, mas reagiu fortemente contra a hipocrisia e o fingimento. Trata-se de cultivar, lá dentro do coração de cada um, a reta intenção, o desejo de conhecer mais e mais, o anseio pelo sentido da vida. Como fomos feitos por Deus para o bem e não para o mal, sabemos que muitos erros são cometidos por aparentarem um bem a ser alcançado. Deus não errou ao nos conceder o dom da vida, e todos são igualmente chamados à vida plena (Cf. Jo 10,10). O erro está em nós, que muitas vezes bloqueamos a estrada para outras pessoas.
O contato com gente machucada pela própria história tem me ajudado a descobrir raízes de bondade e desejo de acertar em muitas pessoas que percorreram estradas totalmente erradas. Vale dizer, a modo de exemplo, o quanto tenho encontrado nos acolhidos da Fazenda da Esperança possibilidades de crescimento, vontade de acertar. Podemos dizer que existe, no mais profundo do ser humano, o anseio pela bondade! Basta que estas pessoas aprendam a viver a Palavra, e aquela que sai da boca de Deus é Palavra de Vida eterna! Começam a ser, digamos assim, “alfabetizadas”, no “beabá” da Escritura. Palavra por Palavra, e as mudanças acontecem! E logo muitos começam a liderar no próprio ambiente da Fazenda! Há poucos dias, foi enviada uma equipe de ex-drogados de Belém e de Bragança do Pará como missionários para uma missão de abertura de uma nova Fazenda no Estado do Amazonas. Impressiona muito ver o quanto podemos dar a partir de nossa própria pobreza. É a Amazônia evangelizando a própria Amazônia, num admirável intercâmbio de dons. Há alguns anos, foram jovens do Estado do Amazonas que aqui chegaram, como missionários para abrir a Fazenda de Mosqueiro!
Nossas escolhas são então conduzidas a um crescimento. Faz-se necessário começar a agir de acordo com o bem que foi encontrado dentro do coração. Isso se chama coerência, passo exigente e difícil, mas fundamental, que pede verdadeiro treinamento, exercício. A escuta da Palavra e sua prática modifica as práticas do dia a dia. A pessoa se torna mais dócil e disponível, toma iniciativas de serviço e doação, aprende a olhar ao seu redor, descobrindo o bem a ser feito! E aqui, a vida em comunidade é o espaço adequado para ajudar no crescimento pessoal e no seguimento de Jesus. Nossa Igreja está empenhada em criar tais espaços, de modo especial com as novas Áreas
Missionárias e novas Paróquias, com as quais se supera a dispersão, sendo esta uma das razões de muito desânimo por toda parte.
A pessoa que descobriu Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida, poderá encontrar na prática das primeiras Comunidades Cristãs (At 2, 42-47) os caminhos da perseverança: fidelidade à doutrina dos Apóstolos, no contato permanente com a Palavra de Deus; fidelidade à vida de oração pessoal e comunitária, e existem muitos grupos e métodos para ajudarem; fidelidade à vivência Eucarística, especialmente na Missa Dominical, espaço privilegiado do encontro com o Senhor; fidelidade à Comunhão do bens, na partilha com os irmãos e especialmente os mais pobres. São sinais evidentes de que as Palavras de Vida Eterna penetraram na vida e frutificaram.
Quem descobriu Jesus Cristo encontra a Igreja, Comunidade de Irmãos, Comunidade de Fé, de Culto e de Caridade. O espaço de Igreja, na Pequena Comunidade Eclesial Missionária, na Paróquia, nos Movimentos Eclesiais e em tantas outras formas suscitadas pelo Espírito Santo, conduzirá o fiel à consciência da missão que lhe é entregue, de ser sal, luz e fermento na sociedade. Nasce então a responsabilidade missionária, com o compromisso de transformar a sociedade, na paixão pelo Reino de Deus. Muitos irmãos e irmãs serão como pontas de lança, avançando para novos e desafiadores horizontes. Outras pessoas estarão presentes, em seu dia a dia, sustentando com a oração, apoio moral ou material, todos os que estarão nas frentes de trabalho mais desafiadoras. Assim, nossa escolha do seguimento de Jesus Cristo se ampliará, para fazermos o bem, como corpo unido, valorizando todos os estilos de vida e trabalho existentes na Igreja, gente que nunca poderá ir embora, pois sabe que só Jesus Cristo tem Palavras de Vida Eterna!
Fonte: Site CNBB Brasil