Quarta-feira, Dezembro 11
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Os pobres são sacramento de Cristo

Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros (MG)

 

            Pelo quinto ano consecutivo, celebra-se, no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia ou Jornada Mundial dos Pobres. A iniciativa é do Papa Francisco que, no encerramento do Ano da Misericórdia, com a Carta Apostólica Misericordia et Misera, de 20.11.2016, instituiu essa data com o intuito de motivar todas as comunidades eclesiais a “refletirem como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomarem consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21). Além disso, esse Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia” (MM 21). A Igreja do Brasil escolheu celebrar essa Jornada com uma semana de ações em favor dos mais necessitados. Em Montes Claros optamos por uma Semana Arquidiocesana da Solidariedade.

Como em outras comemorações, o Papa escreve para cada ano uma mensagem própria para a ocasião. Para 2021, o Papa Francisco inspirou-se no evangelho de Marcos e escolheu o versículo 7, do capítulo 14, a seguinte palavra de Jesus: “Sempre tereis pobres entre vós”. Recorda-nos que “Jesus é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos”. Segundo São João, sabemos como foi a reação de Judas diante da ousada generosidade da mulher que derramou um vaso de alabastro cheio de perfume sobre a cabeça de Jesus, quando esse estava na casa de Simão, em Betânia (cf. Jo 12,5). A hipótese levantada por Judas, de venda do perfume por 300 denários para dar aos pobres, parece ser a mais comum reação de quem não toca o mistério do amor de Jesus e do amor a Jesus.

Quem, tendo experimentado o amor de Jesus, sua proximidade e misericórdia, sua atenção e seu perdão, economizaria expressões de amor a ele? O amor é sempre fonte de generosidade, tanto para quem ama quanto para quem é amado. De alguma forma, Judas está a representar aqueles que estão próximos de Jesus, mas não se abriram ao seu amor. Estão encastelados em seus projetos pessoais e pensam nas vantagens de ser discípulo dele. Não compreenderam o passo da renúncia e titubeiam em abraçar a própria cruz (cf. Mc 8, 34). Não são capazes de se oferecer. E terminam por negociar a vida do Mestre por 30 moedas de prata (cf. Mt 26, 14-16).

Na Igreja sempre houve uma parcela de cristãos fiéis ao cuidado com os pobres. Os santos são exemplares na atenção com eles. “Sempre tereis pobres entre vós” jamais pode significar a resignação de aceitar os mecanismos estruturais produtores da pobreza. Antes, a certeza de sempre ter os pobres entre nós está a indicar o permanente, urgente e necessário compromisso de cuidar deles e de trabalhar para que tenham vida digna. Isso é um imperativo para cada cristão, seja como dimensão caritativa da fé seja como dimensão política. Dar pão a quem tem fome deve ser o primeiro exercício de caridade das nossas comunidades eclesiais missionárias. Acompanhar a elaboração e a efetivação de políticas públicas contra a miséria e a fome é o segundo exercício da caridade. São como os dois lados de uma mesma moeda. É uma pena que estejamos em falta com esse lado que exige uma vigilância política. Lembremo-nos de que as mãos que entregam o pão ao pobre são as mesmas que teclam a urna eletrônica quando das eleições. Então, ao votar, não se esqueça dos pobres.

Fonte: Site CNBB

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